Cabeço de Montachique e Teatro República: Memórias Cruzadas
No documento que apresentamos, datado de 1917, um inspetor da Polícia Cívica de Lisboa solicita ao administrador do concelho de Loures que notifique a atriz Beatriz de Almeida, hospedada no hotel de Cabeço de Montachique, e lhe entregue uma cópia do despacho do Governador Civil do Distrito de Lisboa referente ao processo de reclamação da atriz contra a Empresa do Teatro República, Braga Limitada. Num único e breve ofício cruzam-se dois ambientes distantes no espaço e na vida: o campesino Cabeço de Montachique e o citadino Teatro República.
Cabeço de Montachique, um lugar salutífero localizado na freguesia de Fanhões, detinha nos finais do século XIX e início do século XX, uma considerável reputação na batalha contra o surto de tuberculose que grassava em toda a Europa. Uma notoriedade que não era bem-recebida pela população local que assistia, com receio, ao crescente movimento de pessoas e famílias, a maioria de parcos recursos, que se alojavam temporariamente na região em busca dos seus «bons ares».
Sensivelmente na mesma época, o «Teatro República» guardava uma história igualmente peculiar. Edificado em 1893, em terrenos cedidos pela Rainha D. Amélia, no Chiado, em Lisboa, o «Theatro D. Amélia» tinha sido inaugurado em maio de 1894, com a presença do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia. A partir da implantação da República passou a chamar-se «Teatro República». Em 1914, um grande incêndio destruiu o edifício, deixando-o praticamente em ruínas. Reabriu em janeiro de 1916, com uma intensa atividade teatral e cultural. Dois anos mais tarde voltou a ser rebatizado como «Teatro São Luiz» em homenagem ao visconde de São Luiz de Braga, entretanto falecido, coproprietário e influente dinamizador do Teatro.
Nos anos 1920 o Teatro alcançou o estatuto de sala de espetáculos, com cinema incluído. Em 1971, o edifício foi adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa e ganhou a designação de «São Luiz Teatro Municipal». Finalmente, em 1999, o edifício foi sujeito a obras de ampliação e de recuperação, reabrindo, tal como o conhecemos hoje, em 2002.
CML - AML – Subfundo Administração do Concelho de Loures, junho de 1917