Entre o Feminismo e a Literatura
A propósito do Dia Internacional da Mulher, recordamos Ana de Castro Osório (1872-1935), pioneira do feminismo português e considerada a «mãe da literatura infantil em Portugal», exibindo um ofício da «Cruzada das Mulheres Portuguesas» enviado ao administrador do concelho de Loures em junho de 1916. No documento, a escritora lamenta a inexistência de uma comissão de assistência às famílias dos combatentes e aos próprios mobilizados, sublinhando a necessidade de formar uma subcomissão da «Cruzada» na localidade de Loures.
Eminente teórica do movimento feminista, Ana Osório compatibilizou a sua atividade de escritora, jornalista, editora e conferencista com a de ativista da primeira vaga do movimento feminista, defendendo o acesso igualitário à instrução e à educação, ao trabalho, à independência económica, a salários iguais aos dos homens e ao voto (ainda que restrito). Foi uma das fundadoras do Grupo Português de Estudos Feministas (1907), da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas (1909) e da Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista portuguesa (1912). Neste meio tempo, em 1911, após a instauração da República, colaborou com Afonso Costa, então ministro da Justiça, na elaboração da Lei do Divórcio.
A 9 de março de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Alemanha declarou guerra a Portugal. Em poucos dias, perto de uma centena de mulheres da elite republicana funda a associação «Cruzada das Mulheres Portuguesas», com o propósito de apoiar material e moralmente os soldados alistados e as respetivas famílias. Uma dessas mulheres foi Ana de Castro Osório, responsável pela Comissão de Propaganda e Organização do Trabalho, e para quem a guerra era uma oportunidade para as mulheres evidenciarem o seu valor, intervirem na economia e participarem na política e nos destinos do país.
CML – AML – Subfundo Administração do Concelho de Loures, 1916