Tabernas: Espaços de Sociabilidade e de Algazarra
Na crónica de hoje recuperamos um documento de 28 de junho de 1910, no qual o signatário, residente na vila de Bucelas, se queixa de que «(…) Desde há muito tempo que aqui se abusa em demasia em se conservarem abertas até altas horas da noite várias tabernas (…) uma situada na praça (…) que mais se salienta no abuso. É vulgar esta casa estar aberta até às duas da noite e muito mais, especialmente aos domingos e 2.ªs feiras, dando lugar a que toda a vizinhança não possa ter o repouso de que carece devido à algazarra que ali se passa (…). Na mesma taberna vendem-se umas bombas de dynamite, que arremessadas de encontro às paredes dos prédios [provocam um trépido] medonho. Os frequentadores (…) apesar do barulho que fazem com os cantos e toques, intervalam o divertimento fazendo explodir os tais petardos (…)».
As tabernas fazem parte da memória de muitos. Espaços de convívio, de circulação de bens, pessoas e ideias, começaram a afirmar-se no século XIX. Frequentadas quase exclusivamente por homens, as tascas rurais seguiam os ritmos da vida campesina. Logo pela manhã os aldeãos passavam pela taberna para «matar o bicho», bebendo o seu vinho tinto ou a sua aguardente. Finda a jornada, regressavam para consumir uma ou várias tigelas de vinho acompanhadas por petiscos e, sempre que possível, jogarem às cartas, ao «jogo da malha» ou à «laranjinha».
Todavia, as tascas nem sempre se destacaram pelas melhores razões. O elevado consumo de álcool, aliado ao cansaço, gerava acesas discussões, verbalizadas numa linguagem desbragada, que terminavam muitas vezes em rixas e agressões físicas graves. Uma mistura explosiva que, agudizada pela pequena criminalidade inerente, atormentava a vizinhança, originando inúmeras queixas e pedidos de intervenção das autoridades locais.
Na segunda metade do século XX, as tabernas foram perdendo importância e a maioria não sobreviveu. Mas, quando antevíamos o seu fim de vida, as tabernas renascem, modernizando-se ou recuperando o conceito, agora associado ao requinte da gastronomia e da decoração.
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