Entre a Moral e o "(Ul)traje" dos Calções Justos
Em março de 1941, o regedor da freguesia de Bucelas, num ofício enviado ao presidente da Câmara Municipal de Loures, manifestava a sua preocupação relativamente ao vestuário desportivo, cingido ao corpo, que os jogadores de futebol usavam nos jogos, alegando tratar-se de uma afronta intolerável a que se deveria pôr fim.
"(…), nos dias – e aos domingos principalmente – quando há nesta vila desafios (…) de bola, os (…) jogadores atravessam as ruas da vila na ida e na volta para o campo, com escandaloso trage, apenas com as equipes vestidas… tendo uns calções (…) que mostram todos os desenhos que o corpo encerra¸ o que dá causa – justa – a toda a gente de base moral, protestar acaloradamente – nas praias só lá vai quem quer, existe a rigorosa fiscalização e reprimem-se os abusos, na vila não – (…) será tolerável tal espectáculo? (..) a direcção de tais colectividades (..) era – talvez muito bom… serem chamadas à V. presença e (…) incutir-lhes a (…) moral e decência que o caso requere (…)”.
Viviam-se tempos difíceis numa Europa em guerra, onde se impunham, por razões económicas, o racionamento e a modelação de roupas, tornando-as mais justas ao corpo. Uma restrição que, em Portugal, não era seguida pelo Estado Novo, dada a sua simpatia pela doutrina da Igreja Católica Portuguesa e à gradual conformidade da moral pública com os princípios da moral católica.
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