Cautelas e Interdições
Assinalamos o início dos festejos carnavalescos com a divulgação de um documento remetido pelo Governo Civil de Lisboa ao Presidente da Câmara Municipal de Loures, transmitindo-lhe as diretrizes para os folguedos do Entrudo. Na circular, datada de fevereiro de 1941, deparamo-nos com várias restrições aos festejos, indicando-se numa das alíneas, ser "(…) absolutamente vedado apresentarem-se homens com trajes femininos, assim como a exibição de trajos ofensivos da religião, da moral e dos bons costumes (..)".
Uma diretiva que, transposta para a época atual, impossibilitaria a celebração das "Matrafonas", uma das manifestações incontornáveis do Carnaval de Loures do século XXI e que tanta cor e reinação confere às comemorações. A exibição, em que os homens se mascaram de mulheres, vestindo-se de forma desajeitada e espalhafatosa, tem a sua matriz histórica no facto de, em tempos passados, as mulheres estarem impedidas de participar na transgressão carnavalesca. Oficialmente, apenas os homens podiam brincar ao Carnaval. Assim, para formar "um casal" era necessário juntar dois homens, os quais, apesar da inversão de papéis, mesmo com roupas femininas, alardeavam a sua masculinidade nos pelos do corpo ou nos objetos e nas frases que empregavam.
CML - AML – Série Correspondência Recebida