Abaixo-assinado: Habitantes de Pinheiro de Loures recusam-se a viver «nas trevas absolutas em noites sem luar»
Atualmente é difícil imaginarmo-nos a percorrer as ruas das aldeias, vilas e cidades na total escuridão, sem luz que clareie o nosso caminho. Mas essa era a realidade nas noites de há apenas algumas décadas.
Se os principais centros urbanos começaram a beneficiar da iluminação pública no final do século XIX, quando o gás progressivamente foi sendo substituído pela eletricidade, só a partir dos anos de 1930 este sistema de energia passou a ser a forma quase exclusiva de iluminação pública nas grandes cidades. Todavia, até aos anos de 1970, a eletrificação no espaço rural e no interior do país tardava. A iluminação continuava a ser assegurada por candeeiros a gás e mais comummente a azeite e petróleo. É essa condição que o documento hoje apresentado corrobora, não nos deixando dúvidas de que, na maioria das áreas rurais, a eletricidade era inexistente.
No abaixo-assinado que divulgamos, três signatários, em representação dos habitantes do lugar de Pinheiro de Loures, solicitam a colocação de dois candeeiros, sistema «Petromax», para iluminação pública da localidade, ressalvando que «não desejando (...) tornarem-se pesados no orçamento municipal, levam o seu pedido ao mínimo, porque se é certo que 2 candeeiros são insuficientes para a iluminação do logar, é bem melhor do que o estado atual, isto é, trevas absolutas em noite sem luar (…)». Os subscritores oferecem-se «para pagar o consumo de petróleo e bem assim a limpeza e conservação dos candieiros e precederem às operações de acenderem e apagarem os mesmos para que (…) a Comissão Administrativa não tenha outra despeza que não seja a da aquisição dos mencionados 2 candieiros». Os requerentes referem ainda a importância do lugar de Pinheiro de Loures como local de veraneio, frequentado por famílias de fora. O pedido seria deferido em 27 de setembro de 1928.
CML - AML - Série Requerimentos e Representações, 1928