Documentos com História | Outubro de 2020
Uma tília pela República (1911)
Acompanhando a evolução desde 1852 das Estradas de Circunvalação de Lisboa e a reorganização municipal de Lisboa e dos concelhos que lhe faziam fronteira, é criado um sistema defensivo contra ataques terrestres e marítimos designado por Campo Entrincheirado de Lisboa, que receberá mais tarde, em 1899, a classificação oficial de Praça de Guerra de 1.ª Classe. Um dos fortes deste sistema defensivo, do Recinto de Segurança Sacavém-Caxias, situava-se perto da confluência do rio Trancão com o rio Tejo no Monte Cintra, em Sacavém, tendo a força militar ali presente tido algum relevo na revolução para a implantação da República num acontecimento praticamente desconhecido.
Prevendo-se a passagem das tropas fiéis ao regime em marcha para Lisboa, designadamente do Regimento de Artilharia n.º 3 e do Batalhão de Caçadores n.º 6, a terceira bateria do Grupo de Artilharia de Guarnição n.º 1, auxiliada por populares, transporta para o exterior do forte uma peça de artilharia e coloca-a em local estratégico para impedir o avanço dessas tropas e também para evitar a reconstrução da ponte sobre o rio Trancão, entretanto danificada pela população. Por volta das seis da tarde do dia 5, em Vila Franca de Xira, os revolucionários republicanos conseguiam suster o avanço das tropas depois de terem obstruído a linha férrea.
Um ano depois destes acontecimentos seria comemorado o sucedido, à boa maneira republicana, com a plantação de uma tília no mesmo local onde tinha estado a peça de artilharia, sendo elaborado um auto para memória futura. Infelizmente, o local onde foi plantada a tília é desconhecido e nem sequer é mencionado no auto.
Auto de plantação de uma tília em Sacavém
Câmara Municipal de Loures, Correspondência recebida, 1911