25 de Abril de 1974: Quando o Medo Deu Lugar à Liberdade
Hoje celebramos o 51.º aniversário da Revolução dos Cravos, uma data que nos convida a refletir sobre quem somos e o que queremos. Para assinalar a data divulgamos uma série de documentos que revelam práticas contrárias aos ideais de liberdade que o 25 de Abril nos trouxe e expõem uma das faces mais sombrias do Estado Novo: a existência de um sistema de vigilância e de uma rede de informadores que controlava a população e reprimia qualquer oposição, interferindo nos aspetos mais íntimos da vida de cada um.
Este sistema de controle político e social abrangeu todo o aparelho do Estado, as organizações associativas, os vizinhos e até as próprias famílias. Para conseguir emprego ou casar com pessoas de determinadas profissões era necessário atestar o bom comportamento moral e político. Tudo era vigiado: o que se dizia, o que se escrevia, o que se representava, com quem cada um se relacionava, os traços de personalidade, o comportamento individual. Bastava que alguém, mesmo que movido apenas por ambição, subserviência, sabujice ou inveja, afirmasse ter ouvido algo (ainda que não fosse verdade) para arruinar a existência de muitos portugueses.
Entre os milhares de documentos confidenciais do nosso acervo, selecionámos vários ofícios de 1964, embora pudéssemos ter escolhido qualquer outro ano anterior ao 25 de Abril. Através deles, desafiamos os mais desatentos a tomar consciência de uma realidade que sufocou o quotidiano dos portugueses durante 48 anos. Imagine-se a viver uma vida de desconfiança e medo constante, onde, mesmo em círculos fechados, existia a possibilidade de ser denunciado por qualquer motivo. A viver num ambiente que destruía a confiança entre as pessoas e transformava a sociedade num lugar onde a suspeita e temor eram omnipresentes.

CML – AML – Série Correspondência Confidencial, 1964