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Arquivo Municipal de Loures | 2022-06-08

Surtos de Varíola no Concelho de Loures

Entre meados do século XIX e o início do século XX, a vida em Portugal ficou marcada por várias epidemias, com a sobremortalidade a afetar sobretudo as crianças. Doenças como a peste bubónica, o tifo epidémico, a varíola ou a gripe pneumónica, foram responsáveis pela morte de percentagens elevadíssimas da população. No Arquivo Municipal encontramos dezenas de documentos que corroboram esta terrível realidade e, quando, mais do que nunca, os temas da saúde e higiene regressam ao nosso quotidiano, recuperamos cinco documentos de 1910, 1911 e 1912, relativos a surtos de varíola.

No primeiro documento o Regedor de Bucelas participava a existência de varíola na freguesia, com tal intensidade que tinha provocado casos fatais, destacando a escola do sexo masculino onde uma das três crianças contagiadas tinha falecido e questionando se esta escola, assim como a do sexo feminino, não deveriam encerrar enquanto durasse a epidemia.

No segundo, João Raimundo Alves, Administrador do Concelho de Loures, assinava um edital, publicitando a importância da vacinação e revacinação no combate à varíola que grassava em Lisboa e nalgumas freguesias do concelho de Loures: «(…) um bom meio de a evitar: a vaccinação e a revaccinação, em todas a idades. Recommendo portanto a todas as pessoas, não vaccinadas ou revaccinadas há mais de 6 annos, que se façam vaccinar ou revaccinar, sem demora, para evitarem tão grave doença (…)».

Datado de 1911, o terceiro documento, uma carta de António Pimenta de [França], facultativo de Sacavém, denunciava um surto de varíola na localidade, com o médico a disponibilizar-se para a vacinação, o mais depressa possível, do povo de Sacavém, «no intuito, bem humanitário, de se combater a epidemia que reina na localidade e que tende, cada vez mais a alastrar-se, roubando vidas e desalentando a povoação inteira!».

Os últimos documentos, remetidos pelo Governo Civil do Distrito de Lisboa em 1912, aludem a um surto de varíola na Póvoa de Santa Iria/Santa Iria de Azóia e a uma informação que sinalizava o incumprimento pelo facultativo do dever de visita duas vezes por semana à freguesia, concluindo com o despacho do Governador Civil a determinar a adoção de todas as medidas de profilaxia possíveis na localidade, de que a assistência médica não faltasse aos doentes, e que fosse deferido pela Câmara o pedido dos clínicos referente à obtenção de meios que facilitassem a generalização da vacinação antivariólica.

A varíola, a primeira doença erradicada pelo homem através da vacinação, foi uma das doenças infetocontagiosas que mais mortalidade causou desde a Antiguidade. Estima-se que o vírus tenha dizimado mais de 300 milhões de pessoas ao longo do século XX.

Os últimos casos foram declarados em 1977 e 1978, tendo a doença sido considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1980, ano em que a vacinação foi interrompida. Atualmente algumas amostras do vírus estão devidamente armazenadas em dois laboratórios, localizados nos Estados Unidos da América e na Rússia. Esta medida, defendida por vários cientistas, é, contudo, questionada pela OMS, que sugere a sua destruição.

  


   



   

Administração do Concelho de Loures, Correspondência Recebida, 1910, 1911, 1912

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