Para aceder ao conteúdo da página, clique aqui.

Arquivo Municipal

Dia Mundial do Refugiado



recua
Arquivo Municipal de Loures | 2022-06-20

"A cada dois segundos uma pessoa é obrigada a deslocar-se para longe da sua casa como resultado de um conflito ou perseguição (…) Esse outro que chega, quase sempre chega sem nada".

Ser refugiado é resistir. Resistir à perseguição, a conflitos armados, a calamidades, à miséria. Paradoxalmente, foge da morte, arriscando a vida. Instituído pelas Nações Unidas há 22 anos, o Dia Mundial do Refugiado procura consciencializar os governos e as populações para os graves problemas dos mais de 80 milhões de refugiados que, nos últimos tempos, foram forçados a fugir do país de origem. É necessário muito desespero, mas também muita coragem, para abandonar a família, os amigos, a sua terra, a sua língua. Incompreensivelmente a empatia para com os refugiados nem sempre transparece.

A Convenção de Genebra estabelece que quem foge do conflito ou da perseguição tem o direito de requerer um pedido de proteção internacional. O direito à vida e à segurança, bem como direito de procurar asilo está consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Infelizmente, em demasiadas ocasiões, essa prerrogativa não é aplicada com a responsabilidade e a solidariedade desejadas.

Nos anos de 1930 e de 1940 Portugal recebeu milhares de refugiados oriundos de dois conflitos: da Guerra Civil espanhola e da Segunda Guerra Mundial, período durante o qual a Europa foi o continente que mais gerou refugiados para o resto do mundo. Portugal foi então um país de "trânsito", através do qual foi possível salvar entre 60 a 80 mil pessoas.

Durante a Segunda Guerra Mundial a vaga de refugiados que chegou ao nosso país, vinda de uma Europa mais livre, mudou indiscutivelmente a sociedade portuguesa, transformando o quotidiano das localidades onde se instalaram, exibindo condutas sociais e opiniões culturais e políticas diversas, novas formas de (con)viver, em que grupos sofisticados de mulheres e homens vestindo modas surpreendentes se demoravam nos cafés. Olhados ao revés por parte de uma população a viver num país fechado, atrasado e preconceituoso, acabaram por influenciar as comunidades locais, tornando-as mais abertas.


O documento que exibimos, uma circular do Governo Civil do Distrito de Lisboa a transcrever uma informação da Associação Católica Internacional para Obras de Proteção às Raparigas, que tinha por fim "amparar as raparigas honestas de todas as classes, guiando-as no caminho do bem, afastando-as dos escolhos que possam atentar à sua virtude", dá-nos precisamente nota do preconceito e da perplexidade existentes, ao descrever como imoral, porque diferente, a conduta dos refugiados nas praias, estâncias termais e vilas de província – não nos podemos esquecer que as mulheres estrangeiras vestiam saias acima dos joelhos, não usavam meias nem chapéu, fumavam em público, vestiam fatos de banho em tons claros – por oposição ao que se entendia como a "virtude das raparigas honestas de todas as classes, o enobrecimento da mulher e moralização da sociedade", reclamando, por isso, medidas urgentes que "ponham termo aos abusos de quem tão pouco sabe respeitar os costumes e tradições do país que tão generosamente lhes deu guarida".



CML - AML - Série Correspondência Recebida, 1940

topo