“Há muito que se sente n’este Concelho a falta de uma parteira legalmente habilitada, não constando aos abaixo assignados que resida n’elle alguma com curso, para à face da lei exercer o seu mazister; succedendo frequentes vezes, verem-se as parturientes assistidas por pessoas completamente analphabetas em sciencia de partos e não raras vezes serem vítimas da falta de conhecimento de tais pessoas (…)”.
Excerto de abaixo-assinado dos habitantes do lugar de Loures, 6 de novembro de 1900.
Até à década de 1960 a maioria dos portugueses nascia em casa, em partos realizados por parteiras ou por mulheres com alguma experiência, ainda que empírica, na área. Portugal tinha, por isso, uma elevadíssima taxa de mortalidade materna e neonatal. A qualidade dos cuidados de saúde prestados à parturiente e ao recém-nascido, aliada aos avanços científicos, médicos e tecnológicos dos últimos anos, fizeram-nos esquecer que ainda há poucos decénios o parto continuava a ser um evento de mulheres em que avós, tias-avós ou vizinhas "aparavam as suas crianças" nos primeiros segundos de vida.
No documento que divulgamos cerca de 30 signatários lembram aos seus "(…) legítimos representantes (…) a conveniência de ser criado um partido municipal de parteira legalmente habilitada, com sede onde for da maior conveniência (…)". O pedido viria a ser indeferido.
Com a "medicalização do parto", o saber das parteiras, guardiãs de certos aspetos da memória coletiva feminina, foi perdendo credibilidade e estatuto. Mais recentemente, o parto no domicílio, ainda que com acompanhamento médico, voltou a ganhar adeptos entre mulheres e profissionais defensores do humanismo no parto.
Independentemente das opiniões, a Organização Mundial da Saúde instituiu, em 1991, o Dia Internacional da Parteira para homenagear o trabalho desenvolvido pelas parteiras e parteiros, sublinhando o seu papel nos cuidados prestados a milhões de mães e de crianças em todo o mundo.
CML - AML - Série Requerimentos e Representações