Documentos com História I Fevereiro 2020
Os legados pios como forma de salvação da alma
O ser humano, perante a morte e a crença sobre o que está para lá do desaparecimento físico, sente que deve imortalizar as suas últimas vontades. Durante a Idade Média, por exemplo, nas grandes epidemias o testamento foi o instrumento para atingir a salvação da alma, surgindo o que vai ser conhecido durante séculos como legado pio. Assim, uma parte dos bens serviam para custear a celebração de missas ou ofícios em datas concretas e para distribuir pelos mais carenciados da paróquia.
As disposições testamentárias eram impostas aos legatários, que tinham de as cumprir escrupulosamente e sujeitos a fiscalização por parte da justiça civil. Mesmo assim, aconteciam abusos, o descaminho dos bens e a vontade dos testadores não era cumprida. Depois de 1755, a carência de meios para a assistência social alterou a instituição de legados pios e os não cumpridos passaram a ser tomados a favor de instituições como as Misericórdias ou o Hospital de São José, formando-se processos de grande dimensão temporal.
No fundo da Administração do Concelho de Loures existem 181 autos de tomadas de contas, sendo o mais antigo, sobre a instituição de uma capela por Francisco Anes na Igreja de Nossa Senhora da Purificação de Bucelas (1682 / 1921), também o que tem uma duração documental mais longa, 239 anos. Bucelas é também uma das freguesias com mais processos, cerca de 32% do total, de legados à Igreja de Nossa Senhora da Purificação, à Ermida do Espírito Santo e à Ermida de Nossa Senhora da Paz.
Auto de contas da capela instituída por Francisco Anes e suas filhas Maria e Joana na Igreja de Nossa Senhora da Purificação de Bucelas, sendo administradora a Irmandade de Nossa Senhora da Purificação de Bucelas
Administração do Concelho de Loures, Autos de tomada de contas de encargos pios, Processo nº 68 (1760-03-15 / 1889-11-29)
