O «septicismo» de Keil do Amaral (1943)
Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (Lisboa, 1910-1975) destacou-se ao longo das décadas 40 a 60 do século XX, tendo assumido a responsabilidade de conceber algumas das mais importantes obras públicas desta época sem se identificar com o regime político nem com o gosto oficial do Estado Novo.
Das poucas obras que assinou em Loures, uma houve que o levou a reagir de forma contundente para com os Serviços Técnicos de Obras, tanto mais que se tratava de uma especialidade que não era a sua. Quando o técnico não estava inscrito na Câmara Municipal, era o caso, os Serviços tentavam encontrar uma lacuna para indeferir o processo. No processo para a construção de uma moradia tudo foi aprovado, menos o desenho da fossa séptica, um problema que seria fácil de corrigir com uma reunião entre técnicos.
Perante esta atitude, quase vexatória, Keil do Amaral elabora um «tratado» de 16 páginas. Usando um humor mordaz, entremeado com citações do que mais moderno existia na bibliografia sobre o assunto, censura a Câmara Municipal e os seus técnicos sobre um assunto tão insignificante quanto uma fossa séptica.
A dado momento a ironia atinge um ponto elevado:
«Com esta exposição não se consegue ainda esclarecer a necessidade de um certo número de exigências feitas pela Digníssima Câmara Municipal de Loures. Verdade seja que se trata apenas de uma exposição de carácter geral. Mas outros tratados consultados deixaram-nos na mesma situação. Principalmente um grosso volume alemão, esse, no entanto, por uma razão diferente: por não sabermos alemão.». Sendo neto de alemães percebe-se a dificuldade que teria…
O duplicado da memória descritiva, que ficou no arquivo de Keil do Amaral, foi publicado nesta monografia:
Keil do Amaral: humor de arquitecto / compilação, introdução e notas de Pitum Keil do Amaral. Lisboa: Argumentum, 2010. p. 48-63.
Poderá ainda visualizar o documento na página do Facebook "Arquivo Municipal de Loures".