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Arquivo Municipal

8 de Dezembro de 1929



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Arquivo Municipal de Loures | 2025-12-08

Inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra em Loures
 

A história, na sua cadência inexorável, mostra-nos sempre que depois do conflito, da destruição e da morte surgem os louvores, as insígnias, os discursos, os monumentos. Mas, nenhum louvor substitui os risos perdidos, nenhuma medalha apaga a dor da perda, nenhum discurso devolve o calor dos abraços, nenhum monumento preenche o silêncio das casas vazias. O maior tributo que se pode prestar aos que partiram não está nas palavras nem nas homenagens, mas na coragem de aprender com o passado e de impedir que a história se repita.


Com o término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, a Europa mergulhou num processo de luto coletivo que se traduziu, entre outras manifestações, na edificação de monumentos públicos dedicados aos soldados falecidos. Praças, jardins, cemitérios e até instituições receberam espaços de memória – por vezes modestos – destinados a eternizar o sacrifício dos combatentes. Estima-se que em países como a França, a Bélgica, o Reino Unido e os Estados Unidos (que entrou no conflito em 1917) se tenham erguido dezenas de milhares de monumentos entre os anos de 1920 e 1940.

Portugal, embora não tenha acompanhado essa escala monumental, construiu diversos memoriais em homenagem aos seus combatentes. Loures foi uma das localidades que prestou tributo aos soldados falecidos na Grande Guerra. A 8 de dezembro de 1929, foi inaugurado, com grande entusiasmo popular e na presença das autoridades, um monumento dedicado aos combatentes naturais do concelho de Loures.

Contudo, por detrás da solenidade da inauguração, desenrolava-se uma história menos gloriosa. A construção do monumento ficou marcada por incumprimentos e dificuldades financeiras. De acordo com uma exposição enviada ao ministro do Interior pela firma A. Ribeiro & Silva – Sucessores de Germano José de Salles & Filhos, datada de 25 de abril de 1933, o presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Loures teria incumbido verbalmente o construtor civil Fernando Soares de executar a obra, prometendo que os custos seriam pagos em 1930.

Apesar da ausência de um contrato escrito, a promessa fora suficiente para que Fernando Soares obtivesse, a crédito, os materiais necessários junto da referida firma. A empreitada foi orçada em 30 000 escudos, tendo sido fornecidos materiais no valor de 23 615 escudos. No entanto, três anos depois, apenas 1700 escudos – provenientes de uma subscrição pública – haviam sido pagos.

Este incumprimento gerou sérias dificuldades financeiras tanto ao construtor como à firma fornecedora dos materiais, que viram frustradas as suas expectativas de pagamento. Diante do impasse, foi solicitada a intervenção do ministro do Interior e do Governo Civil do Distrito de Lisboa, na esperança de se encontrar uma solução para um problema que se arrastava sem resolução.

CML – AML – Série Correspondência Recebida, 1933

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