As Manias de Ignácia, o Marítimo Ausente e as Acusações ao Vento (1907)
A 5 de novembro de 1907, o regedor da paróquia de Santa Iria de Azóia comunicou ao administrador do concelho de Loures que não conseguira intimar João, marítimo, devido às suas ausências frequentes. Acrescentava, contudo, suspeitar que a diligência tivesse origem numa querela que envolvia Ignácia, também residente na mesma freguesia.
Segundo informava, Ignácia insistia em afirmar que via o rapaz onde ele não se encontrava. Há mais de um ano que repetia com convicção, queixa atrás de queixa, que João aparecia à sua porta, arranhava a madeira e (até) que lhe batia. O regedor, porém, garantia que tudo não passava de fantasia da queixosa. João quase nunca estava na povoação e os vizinhos confirmavam que as acusações eram fruto dos seus delírios – uma mania que alimentava com persistência e fervor.
Cansada das suas queixas já não encontrarem acolhimento junto da autoridade local, Ignácia decidiu recorrer diretamente ao administrador. Por esse motivo, o regedor sugeria que não se desse importância ao caso, por se tratar de uma história recorrente, sem fundamento e sem fim à vista.

CML – AML – Subfundo Administração do Concelho de Loures, 1907