Uma História de Ligação e Resiliência
O Dia Mundial dos Correios, celebrado a 9 de outubro, sublinha a importância dos serviços postais em todo o mundo, mesmo numa era dominada pelas tecnologias digitais. Contrariando os desafios e vicissitudes enfrentados ao longo da história, os correios continuam a ser um elo de comunicação entre pessoas, instituições e territórios.
Um exemplo ilustrativo das dificuldades práticas vividas no passado pode ser encontrado em dois ofícios enviados à Câmara Municipal de Loures pela Administração Geral dos Correios e Telégrafos. Nesses documentos, datados de 2 e 19 de maio de 1936, constatavam-se as más condições das instalações da estação telégrafo postal de Loures e manifestava-se a vontade de arrendar um novo edifício ainda em construção. No entanto, os valores propostos – 250$00 ou 300$00, consoante a área – foram considerados excessivos e desproporcionados face ao tráfego da estação. A Administração solicitou então um subsídio à autarquia. Quando o proprietário recusou baixar o preço, a instituição equacionou uma alternativa mais modesta. Contudo, a Câmara acabou por deliberar, em sessão de 4 de junho, atribuir um subsídio de 50$00 para viabilizar a mudança.
Em Portugal, a história dos correios remonta aos primórdios da nacionalidade, quando o envio de correspondência era uma prerrogativa dos reis e da nobreza, com os escudeiros a acumular a função de mensageiros. Foi em 1520 que D. Manuel I criou oficialmente os Correios de Portugal, nomeando Luís Homem como o primeiro Correio-mor. Em 1606, o cargo passou para Luís Gomes da Mata, cuja família administrou os correios durante quase dois séculos a partir do Palácio do Correio-Mor, em Loures.
Com o passar do tempo, o serviço postal foi-se modernizando. Em 1797, o cargo de correio-mor foi extinto e, no ano seguinte, surgiram as malas-postas, que asseguravam um transporte mais regular da correspondência. A grande reforma postal de 1893 tornou o serviço acessível à população. Já em 1911, foi criada a Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefone. A partir dos anos de 1960 assistiu-se a um significativo aumento de serviços e utentes.
Em 1970, os correios tornaram-se uma empresa pública (CTT) e, em 1978, foi introduzido o código postal, permitindo o encaminhamento eletrónico da correspondência. Na década de 1990, os correios separaram-se das telecomunicações. Surgiram novos serviços, como o correio azul e a PostLog. A privatização da empresa concluiu-se a 5 de setembro de 2014, na sequência do Decreto-Lei n.º 129/2013, de 6 de setembro.
Apesar das transformações e adversidades, os correios têm sabido reinventar-se para responder às necessidades da sociedade, mantendo-se como uma ponte entre pessoas, geografias e gerações — um legado que merece ser celebrado e preservado.
CML – AML – Série Correspondência Recebida, 1936