A Guerra Colonial e as Festas dos Santos Populares (1961)
Todos os anos, as festividades dos Santos Populares trazem tradição e alegria às ruas de Portugal. A partir desta quinta-feira, o país inicia um mês de celebrações dedicadas aos santos padroeiros: Santo António em Lisboa a 13, São João no Porto a 24 e São Pedro em Sintra, Évora ou Setúbal a 29 de junho.
De norte a sul, os arraiais ganham vida com balões de papel coloridos, fitas e bandeirolas que dançam ao sabor do vento. O aroma dos manjericos perfuma o ar, e os versos neles escritos são lidos e cantados livremente. E que dizer do sabor único das sardinhas assadas, dos trajes e coreografias das marchas populares, do som dos martelinhos de plásticos ou dos bailaricos que animam as noites até ao amanhecer?
Foi decerto neste espírito que, em abril de 1961, Joaquim Luís requereu uma licença para realizar Festas Populares na cidade de Lisboa. No entanto, o Governo Civil do Distrito de Lisboa não partilhava deste entusiasmo. Referindo-se à Guerra do Ultramar, que havia começado no mês anterior em Angola, argumentava que os acontecimentos na província ultramarina estavam a causar profundo luto e amargura na população, sentimentos que certamente afetariam o desejo de muitos em participar.
Assim, solicitava ao requerente que reconsiderasse o pedido, devido à excecionalidade do momento e à possibilidade de o evento constituir um encargo sem compensação apreciável. Quanto ao concelho de Loures, deixava ao critério do presidente da Câmara Municipal, melhor conhecedor das condições locais, a autorização para os festejos dos Santos Populares.

CML – AML – Série Correspondência Confidencial, 1961