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Arquivo Municipal de Loures | 2025-05-26

Centro Social Paroquial de Moscavide
Reflexões Sobre o Papel da Igreja na Comunidade (1970)

Num contexto de profundas transformações sociais e culturais, marcado por processos de secularização e laicização, o movimento católico e o recém-eleito Papa Leão XIV enfrentam desafios urgentes. Encontrar o ponto certo na dinâmica social e cívica será crucial. Um repto que não é novo. Em 1970, num oficio enviado pelo padre Francisco Cosme [1934-2021], então diretor do Centro Social Paroquial de Moscavide, ao presidente da Câmara Municipal de Loures, percebiam-se as sensibilidades de alguns sectores da Igreja Católica e o seu envolvimento na intervenção cívico-política.

Para evitar um provável agravamento da tensão entre a autoridade administrativa e o Centro, o padre Francisco recordava que a instituição, criada por iniciativa da Fábrica da Igreja Paroquial de Moscavide e regida por estatutos aprovados em 1969, tinha como objetivo transformar «a paróquia numa verdadeira comunidade humana», melhorando a vida social de todos os paroquianos, independentemente das suas crenças religiosas, e promovendo o respeito pela dignidade humana e o aperfeiçoamento espiritual, moral e cultural dos seus membros.

O Centro Social Paroquial de Moscavide incentivava a participação ativa dos locais na resolução das suas carências e na elevação do nível de vida da paróquia, fomentando a sociabilidade e solidariedade social, além de valorizar integralmente os indivíduos, as famílias e a comunidade paroquial. Para atingir os seus propósitos, o Centro realizava atividades culturais, educativas, recreativas ou de assistência de saúde, contando com a colaboração de voluntários e de pessoas qualificadas.

Por fim, o diretor do Centro Social Paroquial de Moscavide questionava em que medida as atividades recentes do Centro excediam as suas atribuições, destacando que, apesar de ter informado o administrador do Bairro de Moscavide sobre a recolha de assinaturas por equipas de voluntários, as pessoas envolvidas tinham sido incomodadas e atemorizadas pela polícia. O padre Francisco dava ênfase à presença de dois agentes da Polícia de Segurança Pública à paisana no colóquio sobre a educação dos filhos (certamente não porque o tema lhes interessasse), sugerindo que tais ações por parte da autoridade poderiam aumentar o antagonismo entre a população e o poder civil, além de inibir a proclamada colaboração.

  

CML – AML – Série Correspondência Confidencial, 1970

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